sexta-feira, 31 de julho de 2009

Arteterapia e o equilíbrio psíquico: percurso histórico


No mundo ocidental vivemos numa civilização industrial que, segundo o médico e Analista Jungiano Walter Boechat, desenvolveu mecanismos que aprisionaram as mãos humanas. A supervalorização da racionalidade diminui a importância de instâncias sensoriais e emocionais de nós mesmos, dificultando a não-racionalidade, a inventividade e a imaginação humana. De certa forma, as mãos perderam sua liberdade de criação.



No Ocidente a Terapia Ocupacional foi introduzida nos manicômios para evitar a ociosidade das pessoas. Não havia a intenção de desenvolver criatividade ou mesmo terapia. Nise da Silveira, médica e psiquiatra, foi a primeira brasileira a valorizar “científicamente” a Terapia Ocupacional e desenvolveu atividades onde as mãos poderiam criar. Nise utilizou a Terapia Ocupacional com seus pacientes, e a partir destas experiências verificou como as mãos têm um “poder” de ativar e produzir formas que tendem a equilibrar a fragmentação da psique humana. Por seu interesse cada vez maior no resultado de suas pesquisas e indagações, Nise aproximou-se do médico suíço Carl G. Jung, responsável por desenvolver a Psicologia Analítica. Para Jung as imagens criadas por artistas e pacientes em seus trabalhos e obras são formas de “traduzir o indizível em formas visíveis”, podendo ir além do racionalismo e chegar a instâncias desconhecidas de nós mesmos. A partir daquele momento, o trabalho com as mãos começou a ter mais importância num certo tipo de terapia, principalmente com pacientes esquizofrênicos. Alguns anos depois foi desenvolvida um linha terapêutica com bases Junguianas que usa a criatividade e o trabalho com as mãos, a Arteterapia.


No trabalho de Arteterapia cada material utilizado tem características próprias de maleabilidade, resistência, aspereza, fluidez, etc.; estas características diferenciam um material do outro. A utilização de determinado material possibilita que se inicie um diálogo e uma relação singular entre a pessoa e este. Cada indivíduo, nesta relação pode perceber como é afetado nesta experiência em seu corpo e suas emoções. Na técnica da aquarela, por exemplo, podemos perceber que os indivíduos, ao executarem os movimentos de pintura sobre a superfície do papel, soltam o controle rígido da musculatura e há mais facilidade de conexão da pessoa com seus sentimentos e com a transformação destes. A fluidez deste material colorido ajuda a produzir efeitos positivos na psique e na imaginação das pessoas. Muitas vezes os inúmeros outros diálogos que podem surgir desta experiência tem características lúdicas, livres e espontâneas. A caixa de areia, por exemplo, a sensorialidade da pessoa fica bem estimulada pela areia. Nesta pequena caixa de areia de praia, muitas vezes as pessoas brincam com o material criam castelinhos, morros e vales na medida em que montam cenários com as miniaturas presentes no setting terapêutico. Isto facilita que o indivíduo em terapia possa entrar em contato e expressar suas dores psíquicas num contexto sem pesos. Com o desenvolvimento do processo terapêutico é possível que o indivíduo encontre maneiras mais criativas e mais saudáveis de lidar com sua dinâmica psíquica e integrar alguns conteúdos ainda inconscientes.



Anita Rink

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