sábado, 4 de julho de 2009

Arteterapia Clínica: Enfêrmidade e Experiência Corporal



Há uma tendência em nossa cultura a um excesso de racionalização sobre as doenças. Segundo Arnold Mindell, Psicoterapeuta, Analista e professor do Instituto Jung, a doença física é um conceito do ego. Para Carl Gustav Jung, médico e fundador da Psicologia Analítica, o “ego” seria um aglomerado de “elementos” de conteúdo afetivo. Sua formação inicial se dá através das percepções do corpo e da existência e posteriormente dos registros de nossa memória, atravessada pelas experiências na coletividade em que o sujeito está inserido. Nossa cultura se baseia prioritariamente na razão, a mente racional, segundo Mindell nos torna "possuídos pelo fluxo de imagens mentais”, unilateralmente construídas. Para mudar nossa visão sobre a doença é necessário desenvolver modos mais amplos de lidarmos com as enfermidades e seus diversos aspectos. O ser humano é composto de muitas áreas: emocionais, intuitivas, sensoriais e biológicas. A doença física, vista pelo prisma da racionalidade, se limita aos seus sintomas, como se esta não fizesse parte de uma dinâmica psíquica, de um conjunto mais amplo.


A doença pode ser mais do que seu sintoma, ela pode ser uma ponte que ativa processos vitais da psique. Para Mindell uma “enfermidade” é uma experiência corporal, que olhada pela vertente da Psicologia Analítica ou Psicologia Junguiana, conecta simultaneamente inúmeras instâncias: material, emocional, e da imaginação. Estas instâncias fazem parte da dinâmica psíquica do ser humano, o fluxo entre os aspectos conscientes e inconscientes da psique coletiva e individual. A experiência corporal do ser humano enfermo precisaria ser transformada em imagem e imaginação mítica, para que ele consiga evitar a tendência racional preponderante na nossa sociedade atual. Para Mindell, a maioria das pessoas não percebe o equivoco das racionalizações sobre a doença. Este engano aparece na mente do sujeito como "vozes" socialmente construídas. Existe uma experiência biológica muito singular relacionada a vivencia de cada pessoa com "sua" enfermidade. A palavra sua está entre aspas, pois não existe o sujeito fora da coletividade e vice versa., porém pode existir um esforço individual pela transformação pessoal, cada pessoa pode seguir um fluxo ético singular . Com o tempo este ato individual pode refletir e contribuir para a coletividade.


Para Mindell a enfermidade pode ser compreendida, em termos psíquicos, como uma espécie de “pressão para acordar áreas da psique ainda dormentes”. Segundo este autor, esta percepção da doença como uma pressão da psique é uma forma de ver os sintomas físicos como tesouros em potenciais. Mindell considera que a psique necessita de uma variedade de experiências que possam ajudar a ampliar suas possibilidades.




A Psicologia Analítica contribui de inúmeras maneiras para que o ser humano possa lidar melhor com seus sintomas. Para Mindell, se estudamos e amplificamos pacientemente os sinais corporais, encontraremos um “guru” interno do corpo. O processo terapêutico na Arteterapia clínica utiliza diversos materiais para possibilitar ao sujeito a expressão plástica dos seus conteúdos internos psíquicos. As amplificações dos processos corporais também podem ser feitas sem o uso de materiais, usando processos imaginativos, pois no processo analítico as singularidades de cada pessoa em terapia são levadas em consideração.



Anita Rink

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